sábado, 8 de julho de 2023

Solidão

 

    Nunca tive medo da solidão, pois acredito que a pior solidão é aquela acompanhada, aquela solidão da falta do só na multidão. Mas a minha solidão é a do silêncio do mundo, daquela de ficar sozinha com minhas ideias, graças a Deus tenho um grande amor para chamar de meu - como digo sempre meu Brito - com quem aprendi a segurar a mão e não soltar, com ele aprendi que amor e solidão se completam, nós dois gostamos da solidão. Por vezes o vejo perdido em seus pensamentos no escritório, sozinha, talvez não, mas concentrado em turbilhões de ideias, pensamentos e imagens para desenhar ou escrever. 

    Gosto da solidão. Talvez por ter sida criada em uma casa com vários irmãos, e pouca vezes ou quase nunca conseguia ficar sozinha no silêncio, curtindo a solidão das madrugadas tantas ensejadas por mim, para estudar ler, escrever, ouvir uma música baixinha quase sussurrando como a brisa que sopra do mar.

    Minha solidão é acompanhada, muito bem acompanhada. Ficar “sozinha” para organizar minhas ideias, forjar inspiração para pintar, escrever, desenhar. Sempre gostei de dormir cedinho, no máximo às 19 horas, para ceder ao silêncio da madrugada me reclama, a temperatura baixa não esfria, ao contrário aquece minh'alma, a solidão das ruas que entra pela janela, uma energia que brota de dentro para fora, me acompanho de mim mesma e dos pensamentos, me perco e me acho olhando a paz do céu escuro onde as luzes da cidade escondem os mistérios do infinito.

    Na solidão da alvorada, trabalho nos meus livros, lê-os respirando a paz, as orações se mostram mais fluídas, a conexão parece mais rápida, não sei explicar.
    Logo ali, ao lado, tendo alguém para despertar e juntos embalar o sonho da solidão de quem escolhemos a nós acompanhar na jornada.
Socorro Oliveira


terça-feira, 4 de julho de 2023

Ela partiu

Há muito tempo ela chegou na minha casa, novinha, cheirosa, linda, confesso que foi amor à primeira vista, ainda mais quando se propunha a fazer a parte mais cansativa da casa.

Minha nova secretária era perfeita, fazia tudo com muito esmero, e eu fui assim me apaixonando, a cada serviço eu ficava mais agradecida, depois eu vi que não era só gratidão, minha secretária era perfeita, a melhor que uma dona de casa pode ter, sempre limpinha, não importa suas curvas, que para falar verdade, foi bem desenhada, era o máximo.

Passávamos horas e horas eu e ela, ela e eu. Eu precisava de seus cuidados e ela estava ali, sempre pronta, mas ultimamente vinha dando sinais de insatisfação, cansaço já não mantínhamos mais a mesma conexão, não da minha parte, por vezes nos desentendíamos. Seus afazeres estavam deixando a desejar, tentei um carinho, dei um melhor cantinho, porém, não surtiu efeito algum, emburrada não queria conversa. Devo reconhecer que tenha sido negligente, talvez precisasse de cuidados mais especiais, mais carinho, porém ontem, foi a gota d’água: ela me revelou que já não aguentava mais essa e partiu me deixando na maior tristeza.

Agora entendo Belchior e a relação dele com sua “madame Frigidaire”. Pois é, hoje me vi tão sozinha vendo aquela porção de roupas jogadas esperando outra a me ajudar.

Minha máquina de lavar roupas Eletrolux partiu, me deixou partindo me coração, meus braços mais ainda doloridos.

Não sabe ela, que foi um dos melhores presentes que ganhei nos últimos anos

Vá em paz minha máquina Eletrolux.

 Socorro Oliveira