sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Solidão.


 Tão sozinha estou cheia de companhias

Imersas na mente vazia do acaso

Sem sons, somente dos “eus” que ecoam 

Gritando dentro de mim.


Algo grandiosamente melancólico

Me faz pensar nas primeiras páginas da vida

Cada música, cada cheiro, guardado na linha do tempo

Gritando dentro de mim


Tão sozinho absorto em meus pensares

Que já se foram, que estão por vir

Do que fui do que sou 

Gritando dentro de mim


Vejo a vida como um livro:

Páginas amarelada, textos rebuscados

Personagens erradas 

Gritando dentro de mim


Vejo que me acompanha na leitura

Tão somente nós no mundo de solidão

Segurando um ao outro sem se soltar

Gritando para nós mesmo.


Posso te envolver na minha solidão?

Na solidão de estar acompanhada

Não da nossa inexistente, mas da minha

Gritando dentro de mim.


De suas memórias, do seu colo, do seu afago, 

te acompanhar no trago 

Ensecar até não existir mais palavras

gritando dentro de mim.

22/01/2021

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

ABISMO

 


Da minha janela pra rua existe um abismo

Tão distante e tão oco que se faz raso de lágrimas

Que passa a passos tão largamente distantes

Que nem percebe a aflição do outro extremo

 

Um abismo raso em que tudo se entulha,

De sentimentos, afagos reprimidos.

Vejo do alto, ele abarrotado de dor e tristeza

Tenho medos que se somam a este abismo.

 

Medo do tempo que passa correndo

De levar sua infantil fragrância

De você se despedindo dos braços

Assim, como sua mãe se despediu dos meus.

 

Ô abismo, que da janela me faz lembrar

Que nos primeiros passos não estava aqui,

Nem vi seu primeiro gargalhar.

 

28/01/2021

 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Silêncio de morte

Nesses dias que se arrastam em pandemia, Não vivo, vegeto nas notícias sórdidas de morte Sentindo pânico em tudo que toca e respira Vejo valas de corpos, comuns, sepultadas.  Rostos de semblantes tristes pela dor da perda Olhando de longe corpos frios inertes enfileirados São famílias esvaídas de dor e saudades Criadas pela morte inesperada  Assim, como tântalo age nosso governo Cometendo crime tenebroso contra à humanidade E o noticiário crivado de um tantalismo medonho Levando o povo a hipocondria.  Silêncio sepulcral tão surdo que apavora  O clamor íntimo do ente devorado pela pandemia Vencido pela dor já entregue a inercia Não clama nem reclama, só ora.  Melancólica época de medo pandêmico Que alimenta os vermes em toda terra, Ainda desconhecido do mundo clínico A cura de tão nefasta enfermidade  Os números, em luto calam o mundo Uma chaga nunca mais cicatrizada. Há de chegar ao livramento cientifico Ao fragilizado peito auscultado.  Madrugada de 22/01/2021

Nesses dias que se arrastam em pandemia,

Não vivo, vegeto nas notícias sórdidas de morte

Sentindo pânico em tudo que toca e respira

Vejo valas de corpos, comuns, sepultadas.

 

Rostos de semblantes tristes pela dor da perda

Olhando de longe corpos frios inertes enfileirados

São famílias esvaídas de dor e saudades

Criadas pela morte inesperada

 

Assim, como tântalo age nosso governo

Cometendo crime tenebroso contra à humanidade

E o noticiário crivado de um tantalismo medonho

Levando o povo a hipocondria.

 

Silêncio sepulcral tão surdo que apavora

O clamor íntimo do ente devorado pela pandemia

Vencido pela dor já entregue a inercia

Não clama nem reclama, só ora.

 

Melancólica época de medo pandêmico

Que alimenta os vermes em toda terra,

Ainda desconhecido do mundo clínico

A cura de tão nefasta enfermidade

 

Os números, em luto calam o mundo

Uma chaga nunca mais cicatrizada.

Há de chegar ao livramento cientifico

Ao fragilizado peito auscultado.

Madrugada de 22/01/2021 

sábado, 16 de janeiro de 2021

Nove Luas e um dia


 


Há exatos 36 anos buscava fotografar um momento físico, um milagre concedido, queria deixar registrado “meu estado de poesia”, já que naquele tempo fotografia era um artigo raro, digamos de luxo. Naquele ônibus vestindo um macacão quadriculado verde e marrom me presenteado por Telma (in memória), sapatilha branca, camiseta bege, seguia no coletivo em direção ao centro da cidade de Mossoró. Porém Deus tinha outros planos e não seria registrado em fotos, mas sim em fatos.
Parecendo um relógio cronometrado ao passar ao lado da Maternidade Almeida Castro como se fosse um script fui obrigada a descer na parada seguinte e caminhar lentamente para o desconhecido mundo. Águas escorrendo por minhas pernas ensopando minha roupa e sapatilhas anunciavam uma vida a caminho, sem sentir dor alguma caminhei sozinha, eu e meus sonhos: da estação férrea até a entrada da maternidade, molhada, atordoada, só sem lenço sem documento, sem ninguém, tão solitariamente só naquela longa trilha traçada pela inocência da ignorância, que tão extenso seria deixado para trás, me obrigando a acordar para realidade. Eu comigo mesma, de passos lentos, escorregadios naquele calçado encharcados, o mais seguro era caminhar descalço, pois 80 quilos na lona seria difícil de levantar, sem apoio.
Naquele momento, deixou de existir o passado da bonequinha de vitrine, da modelo, desenhista e todos os “ista” da adolescência, tão cheia de planos e sonhos, nada nem ninguém importava pra mim, só o que eu carregava no ventre, que também não tinha importância para ninguém.
E tudo amadureceu como num piscar de olhos com uma dor, um grito e um choro, assim se cumpriu as nove luas e um dia. Rápido, trinta minutos no máximo tudo estava consumado, o presente ali nos braços me ensurdecendo como se sacode um farrapo embriagado pelo sonho, me acordando para realidade. Só eu e Deus naquele lugar de vida e de morte. Não imaginava dois dias depois estaria de volta ao mesmo lugar com Eclampsia. Vivo hoje, para contar graças a Deus e ao Dr. Valfredo Anunciato da Silveira que cuidou de mim.
36 anos depois, cada momento, cada dor, cada lágrima, cada segundo vivido ainda pulsa dentro e fora de mim, mostrando que ainda não sei nada da vida.
Hoje, com 60 anos só agradeço, ainda estou aqui.
Madrugada de 16/01/2021

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

De repente a pressão

 



O cheiro da cozinha desperta lembranças

Da casa cheia de expectativas para o almoço

As lágrimas descem sem barreiras

São tempos difíceis de passar nesta pandemia

 

As horas avançam e lá no fundo a panela assovia

Olho atenta para ela

Talvez, por alertar o tempo ou me tirar da nostalgia

Uma dor de cabeça repentina afasta as lembranças

 

Me preocupo, não é a pressão da panela que chia

É o meu velho coração me alertando

Não pode deixar as emoções invadir-me

O que conta agora, é esperar.

 

Fica pronto o prato do dia: feijão cremoso

Que minhas filhas amam, uma gosta por causa da avó

Outra não revela o porquê,

Sei que meu coração saudoso irá impedir tão saboroso alimento.

 

A medicação afoga a fome, deito.

Ali quietinha deitada, esperando a dor passar

Adormeci, sonhei com a paz do barulho da casa cheia,

Acordei sem dor, sem lágrima, com a fé e a esperança renovadas.

 Manhã de 13/12/2020