segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O Sim

 


O sim, 

gotejamento de contentamento

de sentimento aceito,

tempero do consentimento,

cheiro acre do não.

O sim,

retira os espinhos psíquicos

precipitados pelos nãos recebidos.

O sim,

é suavidade de compassos de

alegretes que soam ao coração.


Socorro Oliveira

domingo, 8 de agosto de 2021

Amor



O amor se alimenta de diálogos,

de pequenas falhas tentando acertar,

de sentimentos castos ou não.

O amor são os cuidados diários,

sem isso preanuncia morte do amor.

O amor liberta grilhões, 

pudores probos.

O amor não mata, não maltrata

não prende, cuida. 

O amor sopra o que dói

incendeia, extravasa,

afasta sentimentos parcos.

O amor é urgente, desacautelado

se abastece de esmero, 

de zelo.


Socorro Oliveira

06/08/2021

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Exausta


Exausta por te procurar

nos lugares costumeiros

nos olhos dos outros

nos corpos alheios


Exausta estou por desavergonhadamente te desejar

ali na rua, na praça, no beco

onde a noite profana prostitui o tempo

dos seres vivos e amantes.


Exausta estou de tentar te encontrar

em outros corpos, em outras vidas

em outros amores que você não

está, só assemelha.


Socorro Oliveira

26/07/2021

Por Onde?

 

Por onde anda aquele amor que um dia me beijou

me deixou desfalecer em sua boca

tão doce tão quente?


Por que deixaste enferrujar esse sentimento

corroído pelo tempo de espera

naquela esquina?


Por onde andastes nesses dias tão frios

que não me procuraste como cobertor

para esquentar teu corpo? 


Por onde escondes este sentimento

que o mistério dos teus olhos não revela

a sua alma tão perdida?


Onde estavas quando minhas entranhas

gritava pelo seu aconchego e

minhas águas pedia a barragem de tua boca?


Onde estavas?

Socorro Oliveira

26/07/2021

Lágrima

 

A lágrima que molha minha face

rasga meus olhos,

sangra meu coração calado.

Aquele grito surdo escorre

buscando o consolo da alma,

descendo por fora e por dentro

o choro tácito dos olhos,

do alivio que dá a dor,

do amor rejeitado,

do parto frustrado,

da mãe abandonada.

Chora todo o ser, toda a alma

em prantos sem alívio

pelo abraço não dado, 

a palavra não proferida.

Chora, chora em rios

até encontrar o mar de acalantos.

Socorro Oliveira

26/07/2021


quarta-feira, 16 de junho de 2021

Fascínio

 



Quem de ti não se encanta
Quando te encontra em seu canto
Com seu toque anímico
E se acha no seu olhar mágico?
Que segredo escondes neste olhar de mistério
Que despe as armaduras
Incendeia e desperta as entranhas 
Clamando por abrigo?
Que de tão delicioso existe no veludo de tuas mãos,
Que despertas fantasias ao toque febril?
Lábios que seduz ao doce encharcar
Provocando um arguto frêmito.

05/06/2021
Socorro Oliveira


Antes



Antes de partir deixe-me beber na sua boca,
sentir seus gostos.
Antes do abraço que esquenta o mormaço
faça busca nas veredas e cavernas.
Antes de recolher as cortinas deixe
eu te apresentar a peça, te despertar 
desejos, atiçar sua fome.
Antes de me levar para o palco 
me faz insinuações, um toque de mistério.
Antes de me despir e descobrir as trilhas
passe pela janela da alma e encontre os montes,
deite na relva, encontre minhas águas. 
Antes que tudo culmine, me faça desfalecer 
saboreando seus gostos. 
Antes só desejo, depois só frescor.
Socorro Oliveira
12/06/2021


Mãe

 



Quando morre uma mãe,

Morre o tempo sem limites

Morre também a história, apagam-se vestígios.

 

Quando morre uma mãe,

Morre a esperança de eternidade, fica só a dor

Morre o passado.

 

Quando morre uma mãe, morre com ela a história do filho,

Morre a cura, o sorriso que consola, o conselho,

Morre um pouco do verdadeiro, do infundado

 

Quando morre uma mãe,

Morre a renovação de um ventre,

Morre um cantinho pra onde nunca mais voltaremos

 

Quando morre uma mãe,

Nasce um vazio infinito.

 

Saudades suas nesse 21 de abril mamãe.

Socorro Oliveira


quinta-feira, 1 de abril de 2021

O Copo

 


Escrever precisa de alma

Para alcançar a mente.

Avaliar sentimentos e transformar em palavras

Aliar o raciocínio, onde cabe e não cabe.

 

O amor alcança a alma,

Flui a palavra, os contos,

A dor toca e os sonhos brotam esperanças,

Brota a rima, e o Frêmito.

 

Do que se escreve tem peso:

Os que você dá e a que se entende.

Como um copo vazio depois do trago,

Esvazia, enche, depois transborda

Por isso escrevo.

 

Madruga de 23/03/2021


Abismo

 


Abismo

Dentro de cada ser existe um abismo,

Que você não imagine de que,

Talvez da fragrância de um perfume escondido,

De um carinho contido, do som de uma canção.

 

Dentro desse coração marcado

O abismo é raso e, tudo se transforma em entulho,

Entulhos em nugas, que pesa,

Pesa tanto que se transforma em rugas.

 

Será que um dia te amei?

Ou amei o amor que sentia por ti?

Confundi o meu coração

Com os entulhos que ali deixei.

 

Socorro Oliveira

Madrugada de 23/03/2021


Pandemia I

 



Mente ferve buscando palavras para expressar a dor,
As incertezas do que não se ver, só no que se noticia.
Rostos ocultos com máscara, como o vírus
Que circula sem ser visto, nas mãos posta que oram,
No sapato que pisa.
Deserto nas avenidas de família separadas,
Uma atmosfera de guerra silenciosa, velada.
São tantos e tantos sucumbido e outros tantos a serem,
Ele ali no movimento do ar, a proliferar.
No pânico dos rostos cobertos, nas mãos embriagadas,
Que não cumprimentam nem abraçam, pois o afago afasta, mata.
Pra todos os lados se ver, o que um minúsculo oculto pode fazer.
A humanidade em angústia, em pandemia.
Ameaçador espreitando os desacreditados da dor,
Que não usam máscaras nem se embriagam,
Não veem não sentem, não acreditam que o vírus
Está visível nas valas, nas lápides, nos hospitais, nas estatísticas.
Sucumbe o amigo, o pai, o filho, o desconhecido.
Ainda vivo pra contar, dizer do que vi e ouvi.
Não falar do que está acontecendo, é negar sua visível presença.
Socorro Oliveira
Madrugada de 20/05/2020

quarta-feira, 24 de março de 2021

ALMA



A Alma navega ao sabor suave da saudade,

Quer voltar ao passado de outras encarnações,

Para saber das viagens feitas.

Quanta saudade deixou em cada lugar?

Quanto não conseguiu suprir em cada porto.

A Alma que escreve é cheia de pensamentos caducos,

Onde a poesia busca reencarnações,

Do que seria bom como já foi,

Buscando saber de onde partimos.

A Alma esquece do que aconteceu

E as palavras são cheias de ausências.

Socorro Oliveira 23/03/2021

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Solidão.


 Tão sozinha estou cheia de companhias

Imersas na mente vazia do acaso

Sem sons, somente dos “eus” que ecoam 

Gritando dentro de mim.


Algo grandiosamente melancólico

Me faz pensar nas primeiras páginas da vida

Cada música, cada cheiro, guardado na linha do tempo

Gritando dentro de mim


Tão sozinho absorto em meus pensares

Que já se foram, que estão por vir

Do que fui do que sou 

Gritando dentro de mim


Vejo a vida como um livro:

Páginas amarelada, textos rebuscados

Personagens erradas 

Gritando dentro de mim


Vejo que me acompanha na leitura

Tão somente nós no mundo de solidão

Segurando um ao outro sem se soltar

Gritando para nós mesmo.


Posso te envolver na minha solidão?

Na solidão de estar acompanhada

Não da nossa inexistente, mas da minha

Gritando dentro de mim.


De suas memórias, do seu colo, do seu afago, 

te acompanhar no trago 

Ensecar até não existir mais palavras

gritando dentro de mim.

22/01/2021

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

ABISMO

 


Da minha janela pra rua existe um abismo

Tão distante e tão oco que se faz raso de lágrimas

Que passa a passos tão largamente distantes

Que nem percebe a aflição do outro extremo

 

Um abismo raso em que tudo se entulha,

De sentimentos, afagos reprimidos.

Vejo do alto, ele abarrotado de dor e tristeza

Tenho medos que se somam a este abismo.

 

Medo do tempo que passa correndo

De levar sua infantil fragrância

De você se despedindo dos braços

Assim, como sua mãe se despediu dos meus.

 

Ô abismo, que da janela me faz lembrar

Que nos primeiros passos não estava aqui,

Nem vi seu primeiro gargalhar.

 

28/01/2021

 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Silêncio de morte

Nesses dias que se arrastam em pandemia, Não vivo, vegeto nas notícias sórdidas de morte Sentindo pânico em tudo que toca e respira Vejo valas de corpos, comuns, sepultadas.  Rostos de semblantes tristes pela dor da perda Olhando de longe corpos frios inertes enfileirados São famílias esvaídas de dor e saudades Criadas pela morte inesperada  Assim, como tântalo age nosso governo Cometendo crime tenebroso contra à humanidade E o noticiário crivado de um tantalismo medonho Levando o povo a hipocondria.  Silêncio sepulcral tão surdo que apavora  O clamor íntimo do ente devorado pela pandemia Vencido pela dor já entregue a inercia Não clama nem reclama, só ora.  Melancólica época de medo pandêmico Que alimenta os vermes em toda terra, Ainda desconhecido do mundo clínico A cura de tão nefasta enfermidade  Os números, em luto calam o mundo Uma chaga nunca mais cicatrizada. Há de chegar ao livramento cientifico Ao fragilizado peito auscultado.  Madrugada de 22/01/2021

Nesses dias que se arrastam em pandemia,

Não vivo, vegeto nas notícias sórdidas de morte

Sentindo pânico em tudo que toca e respira

Vejo valas de corpos, comuns, sepultadas.

 

Rostos de semblantes tristes pela dor da perda

Olhando de longe corpos frios inertes enfileirados

São famílias esvaídas de dor e saudades

Criadas pela morte inesperada

 

Assim, como tântalo age nosso governo

Cometendo crime tenebroso contra à humanidade

E o noticiário crivado de um tantalismo medonho

Levando o povo a hipocondria.

 

Silêncio sepulcral tão surdo que apavora

O clamor íntimo do ente devorado pela pandemia

Vencido pela dor já entregue a inercia

Não clama nem reclama, só ora.

 

Melancólica época de medo pandêmico

Que alimenta os vermes em toda terra,

Ainda desconhecido do mundo clínico

A cura de tão nefasta enfermidade

 

Os números, em luto calam o mundo

Uma chaga nunca mais cicatrizada.

Há de chegar ao livramento cientifico

Ao fragilizado peito auscultado.

Madrugada de 22/01/2021 

sábado, 16 de janeiro de 2021

Nove Luas e um dia


 


Há exatos 36 anos buscava fotografar um momento físico, um milagre concedido, queria deixar registrado “meu estado de poesia”, já que naquele tempo fotografia era um artigo raro, digamos de luxo. Naquele ônibus vestindo um macacão quadriculado verde e marrom me presenteado por Telma (in memória), sapatilha branca, camiseta bege, seguia no coletivo em direção ao centro da cidade de Mossoró. Porém Deus tinha outros planos e não seria registrado em fotos, mas sim em fatos.
Parecendo um relógio cronometrado ao passar ao lado da Maternidade Almeida Castro como se fosse um script fui obrigada a descer na parada seguinte e caminhar lentamente para o desconhecido mundo. Águas escorrendo por minhas pernas ensopando minha roupa e sapatilhas anunciavam uma vida a caminho, sem sentir dor alguma caminhei sozinha, eu e meus sonhos: da estação férrea até a entrada da maternidade, molhada, atordoada, só sem lenço sem documento, sem ninguém, tão solitariamente só naquela longa trilha traçada pela inocência da ignorância, que tão extenso seria deixado para trás, me obrigando a acordar para realidade. Eu comigo mesma, de passos lentos, escorregadios naquele calçado encharcados, o mais seguro era caminhar descalço, pois 80 quilos na lona seria difícil de levantar, sem apoio.
Naquele momento, deixou de existir o passado da bonequinha de vitrine, da modelo, desenhista e todos os “ista” da adolescência, tão cheia de planos e sonhos, nada nem ninguém importava pra mim, só o que eu carregava no ventre, que também não tinha importância para ninguém.
E tudo amadureceu como num piscar de olhos com uma dor, um grito e um choro, assim se cumpriu as nove luas e um dia. Rápido, trinta minutos no máximo tudo estava consumado, o presente ali nos braços me ensurdecendo como se sacode um farrapo embriagado pelo sonho, me acordando para realidade. Só eu e Deus naquele lugar de vida e de morte. Não imaginava dois dias depois estaria de volta ao mesmo lugar com Eclampsia. Vivo hoje, para contar graças a Deus e ao Dr. Valfredo Anunciato da Silveira que cuidou de mim.
36 anos depois, cada momento, cada dor, cada lágrima, cada segundo vivido ainda pulsa dentro e fora de mim, mostrando que ainda não sei nada da vida.
Hoje, com 60 anos só agradeço, ainda estou aqui.
Madrugada de 16/01/2021

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

De repente a pressão

 



O cheiro da cozinha desperta lembranças

Da casa cheia de expectativas para o almoço

As lágrimas descem sem barreiras

São tempos difíceis de passar nesta pandemia

 

As horas avançam e lá no fundo a panela assovia

Olho atenta para ela

Talvez, por alertar o tempo ou me tirar da nostalgia

Uma dor de cabeça repentina afasta as lembranças

 

Me preocupo, não é a pressão da panela que chia

É o meu velho coração me alertando

Não pode deixar as emoções invadir-me

O que conta agora, é esperar.

 

Fica pronto o prato do dia: feijão cremoso

Que minhas filhas amam, uma gosta por causa da avó

Outra não revela o porquê,

Sei que meu coração saudoso irá impedir tão saboroso alimento.

 

A medicação afoga a fome, deito.

Ali quietinha deitada, esperando a dor passar

Adormeci, sonhei com a paz do barulho da casa cheia,

Acordei sem dor, sem lágrima, com a fé e a esperança renovadas.

 Manhã de 13/12/2020