domingo, 19 de fevereiro de 2023

Sua bênção, minha velha!

 


Esta semana fui agraciada com as presenças de pessoas que já partiram. Fernando, pai de @segundo_tattoo meu filho, foi o primeiro. Adormecia e lá estava ele me falando em documentos, não se fazia entender ou a minha mediunidade não me deixou ver nas entrelinhas, acreditei que estava precisando conversar mais com Jesus, mas o cansaço me desfalecia, e outra vez ele voltava a mostrar os tais papéis. O dia amanheceu, eu tentando entender.
Quinta-feira recebi a visita de Lúcio, meu irmão. Também tinha algo a dizer, porém nunca chegava a finalizar, também não entendi a mensagem, minha mãe me veio à memória, com sua vida sofrida nos seus 70 e poucos anos sem nunca ter o sossego devido.
Depois que ela partiu, além das recordações, resta-me fragmentos dela em mim, do que viveu, do que cultivou e me passou. Algumas coisas parecem retrógadas, no entanto, no tempo dela não era, me esforço para não cometer os mesmos erros, vou aprendendo a lidar com a vida, busco deixar outros fragmentos em quem comigo convive.
Nos seus últimos momentos, antes de partir, foram tão significativos, tão sofridos e trouxeram confirmações e convicções que carrego comigo: como existências de vidas passadas. Nos últimos minutos de sua vida falava o nome de cada um que dizia estava chegando - seus amigos e parentes que estavam do outro lado - não tive o privilégio de vê-los, entretanto pressenti sentir o perfume de meu pai, sou grata a todos que estiveram naquele momento ajudando-a na passagem.
Aprendi que a fragilidade dos segundos não me refuta a dizer o quanto amo, o abraço que necessito, pois segundos depois posso não ter essa oportunidade, então, procrastinar para quê? Amanhã pode não existir.
Tenho tantas recordações dela, heranças genéticas ou não, que no meu envelhecer vou percebendo. Não faço listinhas de compras, não sou boa de matemática, fazendo a feira sei exatamente quanto vou pagar no caixa sem calculadora, são tantos predicados que não conseguiria pôr aqui.                                                    A verdade mamãe, é sua falta se faz em pequenas coisas e sua presença em mim se confirma na saudade latente que muitas vezes bate a porta, sinto no seu cheiro, seu sorriso, em suas mãos de unhas bem feitas, nesse momento me lembro delas frias, tão roxinhas entrelaçadas naquele último momento do qual coloquei meu terço para te acompanhar.

Os meus insistem em ser a maioria pretos ou castanhos, ainda são poucos os que persistem em ficarem prateados como os seus cabelos. Espero ter a graça de vê-los branquinhos, como desejei ver os de meu pai.
Sua bênção, minha velha. 
Socorro Oliveira


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